sexta-feira, janeiro 19, 2007

Paulo Medeiros no Canal de Notícias do ISPV

O Canal de Notícias falou com o Dr. Paulo Medeiros, reconhecido artista plástico responsável pela área de Divulgação, Imagem e Eventos do IPV, que reproduz, nesta entrevista, a sua visão sobre temas importantes para o Instituto e para a cultura da região.

CN - Com o ano de 2006 terminado poder-se-á dizer que foi um ano repleto de eventos no Politécnico de Viseu. Que balanço faz das actividades realizadas?
O Balanço parece-me bastante positivo, se tivermos em linha de conta o estado de recessão em que o país se encontra. Não é fácil para uma instituição pública, que se rege pelo cumprimento de um plano orçamental rígido, conseguir montar, por vezes, estruturas chamativas que proporcionem bons momentos à comunidade. Queria, antes de mais, salientar uma das mais valias desta instituição que é ter à frente um presidente com uma sensibilidade e um grau de cultura muito acima da média, o que lhe proporciona dar luz verde a todas as propostas com qualidade que lhe são apresentadas.
Tivemos um ano não tão repleto como desejaríamos, mas penso que tudo o que se fez atingiu um grau qualitativo bastante elevado. Criou-se um ciclo de exposições mensal, apoiaram-se organizações diversas, desde colóquios, seminários, lançamento de livros; o aparecimento do orfeão académico foi logo marcado pela organização do grande Encontro Internacional de Coros; o Dia da Instituição que este ano teve como ponto alto a inauguração do CAFAC, que é mais um espaço do qual está a ser tratada a sua dinamização. E terminámos o ano com o já tradicional concerto de Natal, que mais uma vez lotou a aula magna, contando com a presença do grupo Vozes da Rádio.
Todos estes eventos, para só falar dos mais relevantes, exigem uma grande disponibilidade de toda a comunidade institucional. Refiro-me, neste caso, aos serviços centrais. E quando as pessoas se deslocam aos nossos espaços para desfrutar de algo que lhes foi proporcionado, têm que ser bem recebidas, e este bom acolhimento só pode ser efectivo com um grande grau de exigência e um grande trabalho de bastidores que só quem está por dentro desta engrenagem é que dele se apercebe. Auxiliares, Técnicos, etc., todos desempenham os seus papéis da melhor forma possível e com um grande sentido de profissionalismo, mas também de "amor à camisola". Criou-se em tempos na instituição um gabinete de eventos, que até hoje tem dado conta do recado.
É gratificante quando alguém de fora, e que não sabe o que é o dia a dia de uma instituição destas, louva as actividades aqui desenvolvidas. Em contrapartida, um grande número de pessoas, senão mesmo uma grande maioria afecta à instituição, alheia-se de uma forma bastante clara de quase todas as actividades por nós realizadas. Não me pergunte porquê, pois não lhe sei responder. O que interessa é que as nossas salas continuam cheias, as exposições continuam com bastantes visitas, o que é uma prova mais que concreta para chegarmos à conclusão que estamos a desenvolver um bom trabalho e que estamos no bom caminho.

CN - Uma dessas realizações foi precisamente o ciclo de exposições "Venha Tomar Café Connosco". Durante um ano, no foyer da Aula Magna, o IPV deu a conhecer vários artistas aparentemente desconhecidos do grande público. Pensa ser este o caminho a traçar em prol da divulgação das artes plásticas?
Não existem, nesta cidade, espaços públicos dignos e de referência para a realização de exposições temporárias. Isto é um facto. As galerias que existem são particulares e têm um conceito diferente, o que é perfeitamente compreensível, daquele que deverá ter um espaço de uma instituição pública. E, sendo o Politécnico uma instituição pública de referência, pensámos desenvolver este ciclo aproveitando um espaço bastante digno que é o foyer da nossa Aula Magna. Não foi fácil. Os primeiros contactos foram feitos quase boca a boca mas mesmo assim conseguimos preencher a totalidade do ano com exposições temporárias. Depressa começámos a ser solicitados por diversos artistas de todo o país para exporem aqui os seus trabalhos. Fazemos normalmente uma pequena apreciação, pois também terá que haver o mínimo de qualidade. Para o ano de 2007 já temos 4 meses preenchidos e estou em crer que depressa se preencherão os outros. Destaco aqui uma mostra de pintura chinesa que irá decorrer no mês de Março.
Como instituição pública que tem um horário, 9.00,12.30 – 14.00,17.30, pensámos em fazer as inaugurações dentro do horário de serviço (14.00h) e, normalmente, na primeira semana de cada mês. Oferecemos o café às pessoas que aqui se deslocam e os nossos funcionários poderão ter um momento de tertúlia, trocar impressões com o artista, por exemplo. Uma vez mais é frustrante ver que as pessoas que nos visitam louvam a iniciativa e os da instituição se limitam a tomar o café e a sair. O volume de trabalho também pode ser muito, mas… é uma questão de cultura.
O artista que expõe deixa ficar na instituição uma obra que ficará a fazer parte da colecção institucional e que poderá ser visitada por qualquer pessoa. Uns mais, outros menos conhecidos, todos estão colocados em locais de destaque nas paredes dos serviços centrais e da presidência.

CN - Tem sido um dos principais dinamizadores da Galeria Virtual do IPV. Pensa que a Internet poderá ter um papel importante na divulgação da cultura e da arte?
A galeria virtual do ISPV é mais um espaço onde os artistas podem divulgar os seus trabalhos, sem qualquer custo, e tem tido uma adesão bastante aceitável. A Internet é sem dúvida um espaço privilegiado para o desenvolvimento ou divulgação de qualquer actividade. Galerias virtuais existem muitas, mas quando esta surgiu ainda não se falava muito, pelo menos aqui em Portugal, neste tipo de projectos. Tudo isto contribui para a divulgação da instituição e mostrar que se apoiam e divulgam os artistas. Acredito que alguns deles, se calhar, só foram dados a conhecer através de espaços como este. Se assim for, já foi cumprida a sua função.
Este espaço está disponível a todos os que nele queiram participar e com ele colaborar. Estamos sempre abertos a novas ideias e sugestões.
Com o intuito de tornar este espaço virtual de galeria ainda mais dinâmico, foi criado pelo serviço de Internet do ISPV, à cerca de um ano, um glossário de termos de arte. E a sua aceitação foi de tal forma positiva que neste momento já foram contabilizados mais de 12.000 visitantes o que, em meu entender, é fantástico.

CN - Na sua qualidade de artista plástico, como analisa o panorama cultural e artístico da cidade de Viseu?
Não é fácil responder a esta questão, pois tenho que me abstrair daquilo que faço no dia a dia e das minhas funções como funcionário da instituição e colocar-me do outro lado.
Mau, para não lhe dizer que pura e simplesmente não existe. Estou a falar no campo das artes plásticas, como é óbvio. Isto pode deitar por terra tudo aquilo que disse anteriormente sobre o trabalho que o instituto desenvolve neste campo. Mas não é isso. Pessoalmente, nunca hei-de expor os meus trabalhos neste espaço institucional e público do qual sou eu o dinamizador, é uma questão de ética.
Quanto ao resto da cidade o panorama é o espelho de mostras desgarradas e de projectos sem qualquer sentido prático. Existe nesta cidade gente de valor no campo das artes plásticas, com certeza que existe, mas falta-lhes uma coisa que em meu entender é fundamental: desenvolver um percurso coerente e de trabalho continuado. Só porque se fez um quadro e por acaso até se vendeu a alguém da família, por exemplo, já se é um artista? Claro que não. São estas mentalidades que gravitam por aí. Independentemente de não existirem espaços para expor, um artista tem que produzir, pois a oportunidade pode chegar a qualquer momento.
Um ponto que penso ser fundamental é o respeito. O respeito pelo trabalho do próximo e ter a consciência de que existem pessoas melhores do que nós. Quantos milhares de pessoas por este mundo fora não produzem obra de forma séria e se calhar com os mesmos problemas que nós nos deparamos por aqui.
entrevista: João Rodrigues
fotos: Joel Marques

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