domingo, agosto 06, 2006

João Pedro Barros em "entre...vistas" na Polistécnica

“Entre...vistas” regista, neste número, as palavras do Presidente do Instituto Superior Politécnico de Viseu. Na entrevista que concedeu a Polistécnica, o Prof. Doutor João Pedro de Barros faz um balanço da actividade e da situação do Instituto, dando ainda a conhecer os projectos traçados para o futuro.
As actuais políticas para o Ensino Superior, entre as quais as medidas recentemente anunciadas pela tutela e o Processo de Bolonha, já em curso, foram igualmente matérias abordadas.
A conversa com o Presidente, e também fundador do ISPV, começou com um retorno aos ideais que nortearam o sonho de trazer o ensino superior para Viseu.


Um dos ideais que o têm norteado desde sempre, e como o Prof. Doutor João Pedro afirmou, aquando da sua tomada de posse para este terceiro mandato, foi lutar para criar condições que possibilitassem “aos mal nascidos aqui, serem tão felizes como os que viram a luz do dia noutras paragens mais próximas do oceano”. Esse objectivo foi plenamente atingido?
Na minha perspectiva foi “quase” totalmente atingido. Ponho em evidência o “quase”, porque ainda há muitas pessoas que, mercê de uma visão social não muito correcta, pensam que a melhor formação é a universitária e não a politécnica. Por isso muita gente, se calhar com melhores capacidades económicas, debandou ainda outras paragens. Agora, quando verificamos que muitas centenas de jovens que jamais teriam possibilidade de ascender a uma formação superior já conseguiram atingir esse objectivo graças à existência do Politécnico, isso motivanos e leva-nos a crer que, efectivamente, atingimos os objectivos que tínhamos definido para a criação deste tipo de ensino em Viseu.

Reportando-nos ao presente, quais os projectos mais significativos que tiveram e deverão ter, ainda, a sua concretização durante o presente mandato? Falamos não só da implementação de infra-estruturas e valências, mas também de aspectos ligados à investigação, à formação do pessoal não docente, à cooperação internacional...
Um grande objectivo é aumentar a qualidade científica do corpo docente do nosso Instituto e, ao mesmo tempo, fomentar a aquisição de uma mentalidade universitária (que tem a ver com a universitas), por parte de todos quantos trabalham na área da educação e da formação.
Uma qualidade que estamos a atingir, passo a passo, porquanto começámos do zero e hoje caminhamos quase para os 200 doutorados e para os 300 mestres.
O segundo grande objectivo é continuar a lutar pela criação de infra-estruturas: mais residências, um pavilhão gimnodesportivo, uma escola pré-primária, mais instalações para a Escola Superior Agrária no âmbito dos Serviços de Acção Social e, enquanto não construirmos o novo edifício da Escola Superior de Educação, melhorar o actual.


E o tão propalado Centro de Investigação?
Vamos candidatar-nos, agora no mês de Julho, junto da Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Se a nossa candidatura for aceite, o que esperamos que aconteça, poderemos criar o Centro de Investigação. É que, para isso, são precisos investigadores devidamente apoiados pela Fundação. Só depois deste primeiro passo teremos que pensar na parte física.
Devo salientar, contudo, que já hoje temos mais de 50 laboratórios no Instituto Politécnico, podendo-se destinar alguns para criar uma unidade de investigação que motive várias áreas científicas em torno de um ou mais projectos globais.

A Escola de Comunicação e Artes é também uma ambição que, certamente, gostaria de ver avançar durante a actual Presidência, uma vez que tanto se empenhou para que essa unidade orgânica viesse enriquecer ainda mais o universo do ISPV...
Sim. A Escola de Comunicação e Artes continua a ser um objectivo. Quando nós inaugurarmos, em Setembro, o CAFAC (Centro de Formação e Animação em Artes Cénicas) estão criadas as condições para termos uma Escola de Artes. Só não será criada se não houver força política para isso.

Continua a pensar-se na possibilidade de criação de uma Escola de raiz ou admite poder avançar-se através de uma unidade ligada à Escola Superior de Educação?
Inicialmente, a minha ideia era criar uma nova Escola, mas como o Governo já disse que não criava novas unidades orgânicas, poder-se-á optar por implantar, aqui no CAFAC, uma extensão da Escola Superior de Educação para que funcionem em ligação.

A transformação do Instituto Superior Politécnico de Viseu em Universidade é também um objectivo que lhe é conhecido, designadamente através da passagem a Universidade de Ciências Aplicadas?
Sim, penso que existem condições para a passagem a Universidade de Ciências Aplicadas.
Lembro, por exemplo, o que aconteceu na Finlândia e noutros países nórdicos que foi, precisamente, a passagem dos Institutos Politécnicos a Universidades de Ciências Aplicadas.
Isto vem ao encontro daquilo que é a motivação do próprio Governo que quer ver na Finlândia o modelo a copiar para Portugal.
O ensino politécnico é aquele que melhor se adapta ao país nesta fase de transformação e evolução. Não é por acaso que algumas universidades portuguesas têm escolas politécnicas...
A mudança de designação deve ser um objectivo da Instituição. Para isso tem que ser aprovada, na Assembleia da República, legislação própria, no sentido de criar esta nova designação.


Constata-se que o Politécnico veio modificar incontornavelmente a face de Viseu.
E, falamos de uma evolução a vários níveis: cultural, social, económico.
Que desafios será preciso enfrentar, no futuro, para que esta Instituição possa continuar a dar o seu contributo para o desenvolvimento de Viseu e da região?

Se os partidos políticos tivessem lutado por esse objectivo, tínhamos hoje aqui uma grande universidade das Beiras, só que estes andam, muitas vezes, a degladiar-se uns aos outros... A verdade é que muitos políticos passaram, a Instituição cá está e vai mostrar aos vindouros que conseguiu criar aqui um centro de formação e educação de muito valor. Estou convencido que a grande obra que se fez em Viseu, nos últimos 25 anos e que se há-de prolongar para os próximos 50, é o Instituto Superior Politécnico de Viseu. É preciso motivar o sector político para que coloque em primeiro lugar a necessidade de proteger uma Instituição que já tanto fez pela nossa comunidade.

Gostaria de tecer algum comentário acerca das novas medidas para o Ensino Superior, recentemente reveladas pelo ministro Mariano Gago, bem como sobre a eventual fusão de Politécnicos com Universidades?
O Instituto Superior Politécnico de Viseu não tem, neste momento, nenhum receio em relação a qualquer medida anunciada. Quem tem qualidade não tem que ter receio.
Lembro, também, a questão da nossa situação geográfica. Estamos colocados no centro do país. Temos que disputar alunos, apenas, com a Universidade de Aveiro e com a de Coimbra, sendo que o Politécnico da Guarda não disputa alunos com o Politécnico de Viseu. A nossa única preocupação deve ser a de continuar a criar condições para aumentar a qualidade do trabalho que aqui se faz. É a qualidade dos cursos que os alunos frequentam que depois vai ser testada por quem lhes vai dar emprego. Podemos vir a ter algum problema apenas em relação ao número de alunos, porque nos dias de hoje é maior a oferta do que a procura.
Julgo que uma associação com a Universidade de Aveiro e com o Instituto Politécnico da Guarda, de forma a não estarmos três instituições a fazer as mesmas coisas, seria um bom caminho a seguir. É preciso racionalizar, mas mantendo-se a autonomia, sem fusão e sem atropelos.

A obrigatoriedade de revelar o percurso profissional dos diplomados de cada uma das instituições de ensino superior que repercussões terá no Politécnico de Viseu?
Uma grande percentagem dos nossos alunos, das várias áreas científicas, tem obtido o emprego desejado.
A título de exemplo, dir-lhe-ei que ainda há dias aqui recebi o assessor financeiro de uma conceituada instituição bancária que me disse ter sido nosso aluno, na Escola Superior de Tecnologia. Como imagina, essa informação encheu-me de alegria, não só pelo lugar que ocupa, mas, sobretudo, pela formação e educação que demonstrou e pela forma e objectividade em relação à proposta que me apresentou.
Tem havido uma boa procura de técnicos formados por nós. Em muitos cursos, os nossos alunos já têm emprego garantido, mesmo antes de acabarem a sua formação. Existem alguns problemas em alguns cursos na área da educação, mas mesmo assim tivemos cerca de 70 por cento de colocações, o que é razoável se atendermos a que há, neste momento, milhares de licenciados sem emprego.

O Processo de Bolonha está já numa fase adiantada. Se não houver imprevistos, no próximo ano, uma grande parte dos nossos cursos funcionará de forma adequada ao novo sistema, que introduz novos ciclos de estudos. Que desafios e oportunidades se perspectivam neste domínio?
Bolonha é o futuro. Bolonha é um caso de sucesso a nível da Europa.
O Processo de Bolonha pressupõe uma compatibilização de sistemas, de forma a moralizá-los, a racionalizá-los e a criar as condições para a mobilidade de estudantes, de funcionários e de todos quantos trabalham na área da formação e da educação.
Estou convencido que as nossas instituições vão ganhar muito com as reformas de Bolonha, cujos princípios são consonantes com as orientações da Estratégia de Lisboa e da Agenda 2000, que assentam na construção da Europa do Conhecimento, da Europa do Desenvolvimento, de forma a ser possível enfrentar outros continentes que têm hoje uma economia muito mais desenvolvida que a nossa.
Penso que Bolonha é o caminho certo para criarmos uma Europa muito mais globalizada e é também o caminho para criar uma nova mentalidade em relação a essa Europa.
O ISPV tem consciência da importância de todo este Processo, pelo que está já adaptada a Bolonha, com poucas excepções, uma grande parte dos curricula – 14 cursos. Além disso, possui um Gabinete de Relações Internacionais altamente activo, que fez e está a fazer um trabalho muito relevante.


A par desta política de compatibilização de sistemas de ensino, em termos europeus, o Politécnico de Viseu tem exercido ampla cooperação com outros países, nomeadamente com os de expressão portuguesa. A parceria que está a ser desenvolvida com Cabo Verde insere-se, certamente, numa estratégia de abertura e de estreitamento de laços com o mundo lusófono...
Pensamos, na realidade, que com este tipo de cooperação podemos contribuir para a defesa e desenvolvimento do espaço lusófono. Nem sempre isto é fácil. Seria necessário criar condições para uma maior mobilização em torno destes projectos. Mas, estou convencido de que iremos aumentar essa colaboração.
Logo no início do próximo ano lectivo irá um grupo de funcionários e professores do ISPV para Cabo Verde. Gente que vai montar, no local, um esquema de apoio para criação de estruturas voltadas para a formação.
As Escolas Superiores Agrária, de Saúde, de Tecnologia e de Educação do ISPV vão, brevemente, levar a Cabo Verde uma acção de formação para formadores.
É nossa intenção colaborar com os professores do secundário para uma melhor rentabilização do trabalho que desenvolvem, vindo a ser, eles próprios, os veículos para a formação a nível superior, através de vídeo-conferências e de outros meios que as novas tecnologias proporcionam.

Para finalizar, o Presidente do ISPV deixa uma mensagem à Instituição:
Uma das coisas que gostaria ainda de dizer é que as instituições evoluem em função da capacidade que há dos mais velhos transmitirem aos mais novos muito daquilo que são os valores e os princípios que nortearam a sua acção.
O grande movimento a que chamamos a endoculturação passa pela actual geração dar a mão à anterior. Transpondo esta ideia para o Politécnico de Viseu, direi que a evolução da Instituição deve ter em conta os pilares que foram construídos por aqueles que primeiramente aqui chegaram. Juntamente com todas as unidades orgânicas, poder-se-á criar, assim, o ambiente propício para que haja uma evolução normal.
Pela nossa parte, estamos a cultivar a harmonia interna que possa permitir ao ISPV continuar a projectar-se a nível nacional e internacional.
Penso que muito já foi feito, mas ainda há muito para fazer. No binómio Educação/Formação, como em tudo na vida, nunca está tudo feito.


Joaquim Amaral / Ester Araújo – Gabinete de Publicações – ISPV
jamaral@pres.ipv.pt / earaujo@pres.ipv.pt
Fotografia: Joel Marques
jmarques@pres.ipv.pt

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